PÁSCOA ressurreição e esperança
PÁSCOA ressurreição e
esperança
D. Nuno Brás: Páscoa de jejum e de confinamento continua a ser também
de ressurreição e de esperança
12 Abril, 2020
O bispo do Funchal disse
na noite deste sábado que a Páscoa de 2020 “ficará para a história da Igreja
como a ‘Páscoa da grande fome da Eucaristia’, com os sacerdotes a celebrarem
quase toda a Quaresma e, agora, esta solene Vigília com as igrejas vazias e os
fiéis distantes, em suas casas”.
Ainda assim, frisou D.
Nuno Brás na homilia da Missa da Vigília Pascal, celebrada na Sé, “esta Páscoa
feita de jejum e de confinamento continua a ser feita também de ressurreição e
de esperança.”
Por isso mesmo,
prosseguiu, “a todos quero dizer: ‘O Senhor ressuscitou verdadeiramente’. Não é
um vírus que o poderá derrotar. E Ele espera de nós, já agora, e mesmo na
situação em que nos encontramos, esta disponibilidade apostólica para O
testemunhar.”
Depois de frisar que a
“tranquilidade e o silêncio desta noite Santa, contrasta claramente com a
urgência e a correria presentes na narração evangélica do encontro do túmulo
vazio, que acabámos de escutar”, D. Nuno Brás reconheceu que “parece
contraditório a afirmação desta urgência evangelizadora com a situação em que
nos encontramos, confinados às nossas casas, famintos do encontro com os
irmãos”.
No entanto, explicou, a
urgência “marca, desde o início, a missão cristã”, a vitória de Jesus sobre a
morte que “é também a vitória da humanidade” é uma “novidade que urge comunicar
a todos”.
“A nós, aos nossos
corações, é também urgente que o Evangelho continue a ressoar. Também nós,
crentes, baptizados destas Ilhas do Santíssimo Sacramento e da Imaculada
Conceição, como está gravado em pedra na porta desta nossa Catedral,
necessitamos de voltar a escutar aquele primeiro anúncio, sempre cheio de
frescura e alegria: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão!”.
Porque necessitamos constantemente de tomar consciência da nossa raiz, da
realidade primeira onde assenta e da pedra segura que sustenta a nossa
existência de homens e de cristãos”, frisou.
Nesta Vigília Pascal
transmitida online e através do Posto emissor do Funchal, D. Nuno Brás pediu
ainda aos fiéis que, neste tempo de quarentena deixem “a urgência do anúncio do
Evangelho fermente no nosso coração. Que ela se faça vida, disponibilidade e
ousadia em toda a nossa existência.” E que nos “alegremos com esta certeza
serena mas entusiasmante, única capaz de verdadeiramente romper a escuridão:
Cristo venceu a morte. Aleluia!”
Nas normas para as
celebrações na Semana Santa por causa da pandemia Covid-19, a Congregação para
o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Santa Sé) indicou que a Vigília
Pascal, celebração mais importante do ciclo litúrgico, fosse celebrada, como
todas as restantes celebrações, com a ausência de fiéis. Assim foi também na Sé
do Funchal, onde apenas se encontrava um grupo reduzido de pessoas.
Leia
na integra a homilia de D. Nuno Brás:
DOMINGO DA RESSURREIÇÃO
DO SENHOR
Vigília Pascal
12 de Abril 2020
A tranquilidade desta
noite santa — sobretudo desta noite de Páscoa de 2020, que ficará para a
história da Igreja como a “Páscoa da grande fome da Eucaristia”, com os
sacerdotes a celebrarem quase toda a Quaresma e, agora, esta solene Vigília com
as igrejas vazias e os fiéis distantes, em suas casas — a tranquilidade e o
silêncio desta noite, dizia, contrasta claramente com a urgência e a correria
presentes na narração evangélica do encontro do túmulo vazio, que acabámos de
escutar.
O anúncio da
ressurreição de Jesus com que o Anjo surpreendeu aquelas mulheres temerosas; a
quantidade de sinais na natureza que acompanharam esse anúncio; a certeza da
vitória sobre a morte — e da vitória sobre o pecado que a causa —, longe de
serem paralizadoras daquelas duas mulheres, fizeram antes surgir uma urgência
(quase diríamos: uma emergência) que nada nem ninguém poderá deter. É uma
urgência que teve início naquele momento, mas que atravessou estes dois mil
anos, e chegou aos nossos dias.
Aliás, esta urgência
estava já contida na própria missão: “Ide depressa dizer aos discípulos: Ele
ressuscitou dos mortos”, diz o Anjo às mulheres. E o evangelista continua,
referindo como estas corresponderam à missão: “afastaram-se rapidamente […] e
correram a levar a notícia aos discípulos”.
A urgência marca pois,
desde o início, a missão cristã. É fruto da vontade de Deus. É a urgente
necessidade de anunciar e viver a ressurreição! A vitória de Jesus sobre a
morte (que é também a nossa vitória, a vitória da humanidade) é uma novidade
que urge comunicar a todos. A morte foi derrotada no seu terreno. Um homem que
é Deus abriu uma brecha no seu domínio e a derrotou, e deu-nos a todos a
esperança de passar com Ele do tempo para a eternidade!
Em primeiro lugar era,
naquele momento, urgente comunicar a Boa Nova aos discípulos porque eles, que
partilharam a vida de Jesus, que presenciaram os milagres, e que escutaram a
sua palavra, haviam também de ser as primeiras testemunhas do mundo novo que
naquele momento surgiu. Haviam de ser eles a garantir que este Jesus
ressuscitado era o mesmo que com eles caminhou pelas estradas da Galileia. Que
não era um fantasma, uma ideia, uma projeção, mas o mesmo que todos viram morto
no madeiro da cruz e que agora se apresentava, cheio da vida divina, a comer e
a beber com os seus.
Mas a ressurreição é
também um acontecimento cuja notícia urge comunicar ao mundo inteiro. “Ide por
todo o mundo”, mandará o Senhor ressuscitado aos Apóstolos. E eles foram. Tomé
chegou à Índia; Tiago à Península Ibérica. Chegaram a África e ao Leste
europeu. E os seus sucessores peregrinaram por todo o mundo conhecido. E quando
novas terras foram descobertas (como aconteceu com a nossa Madeira e com tantas
outras paragens que os
portugueses deram a
conhecer ao mundo), sempre os navios levavam consigo a Cruz de Cristo, o
Evangelho da ressurreição, a vida da fé. É que o Evangelho não pode esperar
seguranças, não pode aguardar certezas humanas. Requer ousadia, coragem,
comunicação alegre e simples da certeza da ressurreição.
A nós, aos nossos
corações, é também urgente que o Evangelho continue a ressoar. Também nós,
crentes, baptizados destas Ilhas do Santíssimo Sacramento e da Imaculada
Conceição, como está gravado em pedra na porta desta nossa Catedral,
necessitamos de voltar a escutar aquele primeiro anúncio, sempre cheio de
frescura e alegria: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão!”.
Porque necessitamos constantemente de tomar consciência da nossa raiz, da
realidade primeira onde assenta e da pedra segura que sustenta a nossa
existência de homens e de cristãos.
Mas a mensagem da
ressurreição do Senhor é sobretudo urgente comunicá-la a quem ainda não O
conhece, a quem ainda não é capaz de viver a alegria da vida nova. Tantos ainda
não O conhecem. Claro que já ouviram falar de Jesus, mas não escutaram a Sua
palavra. Presos no seu racionalismo, não foram capazes de abrir o coração;
presos no seu egoísmo, não foram capazes de entender a sua vida a partir de
Deus; presos nos preconceitos causados tantas vezes pelos pecados dos cristãos,
não se deixaram alimentar pela Verdade do Ressuscitado. Necessitam que alguém
os ajude a romper os muros de uma humanidade fechada e sem horizontes, e lhes
anuncie a Boa Nova da ressurreição, o caminho da vida com Deus.
Como podemos comunicar a
vida nova? Parece contraditório a afirmação desta urgência evangelizadora com a
situação em que nos encontramos, confinados às nossas casas, famintos do
encontro com os irmãos.
Mas esta Páscoa feita de
jejum e de confinamento continua a ser feita também de ressurreição e de
esperança. A todos quero dizer: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente”. Não é
um vírus que o poderá derrotar. E Ele espera de nós, já agora, e mesmo na
situação em que nos encontramos, esta disponibilidade apostólica para O
testemunhar.
Paulo, o Apóstolo que o
Senhor ressuscitado encontrou no caminho de Damasco, viveu também ele esta
urgência de que a notícia da ressurreição chegasse a todos. Paulo, o Apóstolo
dos Gentios, caminhante incansável pelo mundo romano de então; Paulo que a
propósito e fora de propósito anunciou o Evangelho, sofreu também ele a prisão.
Ficou, também ele, confinado tantas vezes a quatro paredes. Mas nem por isso
impedido de proclamar a Boa Nova. Prova dessa realidade são as chamadas “cartas
do cativeiro”, escritas da prisão, onde o Apóstolo continuou o seu trabalho
evangelizador, cuidando das comunidades que tinha fundado, acompanhando a sua
vida e os seus problemas. E poderíamos continuar com tantos outros exemplos.
Deixemos, irmãos, que
neste tempo de quarentena, a urgência do anúncio do Evangelho fermente no nosso
coração. Que ela se faça vida, disponibilidade e ousadia em toda a nossa
existência.
E alegremo-nos com esta
certeza serena mas entusiasmante, única capaz de verdadeiramente romper a
escuridão: Cristo venceu a morte. Aleluia!
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