COREIA DO NORTE Pais revelam calvário de Otto Warmbier na Coreia do Norte por MÁRIO LOPES

Pais revelam calvário de Otto Warmbier na Coreia do Norte por MÁRIO LOPES 

Fazia sons "inumanos", o corpo agitava-se em espasmos e os dentes estavam muito maltratados. Foi assim que os pais do estudante americano falecido em Junho o encontraram no regresso aos EUA. Porém, um relatório médico divulgado na imprensa norte-americana não confirma prática de tortura.
27 de Setembro de 2017, 16:02
Estava cego e surdo, num estado que não se poderia classificar como coma, e emitia “sons de uivos, inumanos”, enquanto o corpo se agitava em espasmos violentos. Tinha a cabeça rapada e “parecia que alguém tinha pegado num par de alicates e reorganizado os dentes do maxilar inferior”. Assim descreveram os pais de Otto Warmbier o estado em que reencontraram o filho, julgado e condenado a uma pena de prisão na Coreia do Norte em Março de 2016 e evacuado pelo regime de Pyongyang para os Estados Unidos dezassete meses depois.
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O relato de Cindy e Fred Warmbier, pais do estudante que morreu a 19 de Junho, com 22 anos, seis dias depois de regressar a território norte-americano, foi feito numa entrevista que o casal deu esta terça-feira ao programa Fox & Friends, da Fox News. Tomaram a decisão de o fazer, explicaram, quando leram que a Coreia de Norte se considerava “a maior vítima” de todo este caso. No final de Junho, a agência noticiosa do país deu conta de que o regime rejeitava as acusações de tortura e de tratamento cruel do estudante, acusando os Estados Unidos e a Coreia do Sul de iniciarem uma campanha de difamação perante o que Pyongyang considerava ser o tratamento “humanitário” dado ao recluso. Agora, Fred Warmbier riposta: “A Coreia do Norte não é uma vítima. São terroristas. Raptaram o Otto. Torturaram-no. Feriram-no intencionalmente”.
O estudante universitário foi preso em Janeiro de 2016 quando se preparava para deixar a Coreia do Norte, a que chegara como turista, acusado de "crimes contra o Estado" - tentara roubar um cartaz de propaganda estatal do hotel em que se alojara. Dois meses depois, e no final de um julgamento que durou apenas uma hora, foi sentenciado a 15 anos de trabalhos forçados. Pyongyang defende ter tratado o caso de acordo com as leis do país e com os “padrões internacionais”. Segundo a sua versão, após a prisão, o jovem terá contraído botulismo e entrado em coma depois de lhe ter sido ministrado um sedativo.
Na entrevista, que surge num momento em que se assiste a uma escalada de tensão entre os Estados Unidos e a Coreia que tem inquietado o mundo, os pais do estudante deram conta do choque que sofreram ao testemunhar o seu estado. Dias antes, tinham sido informados que o filho sofrera danos cerebrais. “Como somos optimistas, imaginámos que o Otto estaria adormecido, talvez em coma induzido, e que, depois, os nossos médicos iriam trabalhar com ele e que iria receber o melhor tratamento e amor e iria recuperar”. Ao entrar no avião que o transportou desde a Coreia do Norte até Cincinatti, no estado norte-americano do Ohio, ouviram “sons inumamos” e depararam-se com a situação bastante diferente da que esperavam.
Porém, esta terça-feira, o jornal Cincinnati Enquirer, baseado numa cópia do relatório de uma observação médica feita ao corpo de Otto Warmbier a que o diário terá tido acesso, escreve que este revelou apenas dez pequenas cicatrizes (os pais tinham falado numa “grande cicatriz” no pé direito) que não eram suficientes para extrair daí uma certeza quanto à prática de tortura. Os dentes estavam em bom estado e o nariz e os ouvidos não revelavam “alterações significativas”, ao contrário do que a família Warmbier alegou.
Os pais tinham recusado a realização de uma autópsia formal. “Ele já tinha sofrido demasiado e não iria permitir que desaparecesse da minha vista”, argumentou Cindy Warmbier à Fox. No relatório agora revelado, a morte é atribuída a uma lesão cerebral resultante de uma privação de oxigénio, de origem não identificada, que terá ocorrido mais de um ano antes do falecimento.

O Presidente norte-americano Donald Trump reagiu à entrevista na sua conta de Twitter: “Grande entrevista na Fox & Friends com os pais de Otto Warmbier: 1994-2017. Otto foi torturado de forma inimaginável pela Coreia do Norte”. Horas depois, afirmou em conferência de imprensa que quaisquer acções militares a que os Estados Unidos se vejam obrigados serão “devastadoras” para o país aisático, repetindo ameaças proferidas ao longo das últimas semanas.

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