SÃO JOSÉ/inspiradordosPapas São José, o inspirador dos Papas
SÃO JOSÉ/inspiradordosPapas
São José, o inspirador dos Papas
19 de março 2019 VaticanNews
Uma
ligação especial liga os Papas dos últimos cem anos com a imagem de São José. O
“estilo” do esposo de Maria e guardião silencioso de Jesus inspirou de vários
modos o ministério petrino dependendo da época e da experiência pessoal.
São José com Jesus e Maria |
Cidade do Vaticano
A silhueta de São José estendida
no sono, ao lado da mesa onde estuda e assegura as necessidades da Igreja
universal, está ali para recordar que também em um sonho pode se esconder a voz
de Deus. Papa Francisco tem ao seu lado, desde sempre, nos quartos onde morou e
estudou a pequena estátua de São José dormindo.
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O “solucionador”
Até hoje a estátua de São José
está sobre a sua escrivaninha na Casa Santa Marta. Esta imagem, e a devoção de
Francisco por aquilo que representa, teve uma imprevista popularidade mundial
quando alguns anos atrás o próprio Papa falou durante o Encontro Mundial das
Famílias em Manila.
Uma confidência que revelou uma
confiança total na força mediadora do pai putativo de Jesus e uma admiração
pelo papel e pelo estilo que José sempre encarnou:
“Amo muito São José, porque é um
homem forte e silencioso. Na minha escrivaninha, tenho uma imagem de São José
que dorme e, quando tenho um problema, uma dificuldade, escrevo um bilhetinho e
meto-o debaixo de São José, para que o sonhe. Este gesto significa: reza por
este problema! (Encontro com as famílias em Manila – 16 de janeiro de
2015).
Um nome para muitos Papas
Depois de Pedro, muitos Joãos,
Bentos, Paulos, Gregórios, mas nenhum José. Nunca teve um Papa com este nome.
Porém, muitos deles, especialmente no último século, o tiveram como nome de
Batismo, como se os homens chamados para custodiar Jesus fosse um viático para
os homens chamados para custodiar a Igreja. No início do século XX José
Melchiorre Sarto torna-se Pio X e mais tarde sobem ao trono de Pedro Angelo
José Rocalli, Karol Józef Wojtyla e Joseph Ratzinger. Francisco não se chama
José, mas celebra, agradecido, a sua Missa de início de ministério dia 19 de
março. Invocações que recordam o discreto modelo que inspira.
Muitos Papas por um nome
As etapas que levaram a Igreja a
estabelecer o culto de São José foram muito longas, desde Sisto V que no final
do século XV fixou a data da festa para 19 de março até a última decisão de
Papa Francisco que, confirmando a vontade Bento XVI, no dia 1º de maio de 2013
decreta o acréscimo do nome de São José, Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria,
nas Orações eucarísticas II, III e IV (precedentemente João XXIII tinha
estabelecido em 13 de novembro de 1962 a introdução no antigo Cânone romano da
Missa, ao lado do nome de Maria e antes dos Apóstolos). Foi também João XXIII,
que querendo confiar ao “pai” terreno de Jesus o Concílio Vaticano II, escreveu
em 1961 a Carta Apostólica Le
Voci, na qual faz um tipo de sumário da devoção a São José sustentada pelos
seus predecessores. Não são opacas operações de “burocracia” litúrgica. Por
trás de cada novo decreto colhe-se um sentimento e uma consciência eclesial
cada vez mais enraizada como por exemplo, como aconteceu a Pio XII, podem
chegar a marcar também na vida civil.
Um Santo que trabalha
No dia primeiro de maio de 1955,
era um domingo e a Praça São Pedro estava repleta de fiéis. Pio XII faz um
discurso enérgico aos presentes exortando todos a se orgulharem da sua
identidade cristã frente às ideologias socialistas que pareciam dominar . No
final surpreende a multidão com um “presente” que entusiasma todos:
“Para que todos entendam este
significado (…) queremos anunciar a Nossa determinação de instituir – como de
fato instituímos – a festa litúrgica de São José operário, marcando-a no dia 1º
de maio. Trabalhadores e trabalhadoras, agrada-vos o nosso dom? Temos certeza
que sim, porque o humilde artesão de Nazaré não só personifica junto a Deus e a
Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas é também sempre providente
guardião vosso e de vossas famílias” (Festa de S. José Operário – 1º de
maio de 1955).
“Papa José” não é possível
Quatro anos mais tarde a Igreja
estava sendo guiada por um homem que queria se chamar “Papa José”. Renunciou,
disse, porque “não é usado entre os Papas”, mas a explicação revela a nostalgia
e a forte devoção que João XXIII tinha por São José:
“Faça com que também os teus
protegidos compreendam que não estão sós no seu trabalho, mas saibam descobrir
Jesus ao seu lado, acolhê-lo com a graça, custodiá-lo com a fé como tu o fazes.
E faça com que em cada família, em cada fábrica, oficina, onde quer que trabalhe
um cristão, tudo seja santificado na caridade, na paciência, na justiça, na
busca do fazer bem, para que desçam abundantes dons da celeste predileção”
(19 de março de 1959)
O homem dos riscos
Paulo VI também não se chama
José, mas de 1963 a 1969 em particular, não deixa de celebrar uma Missa na
solenidade de 19 de março. Cada homilia torna-se uma peça que forma um retrato
pessoal com o qual Paulo VI mostra-se fascinado pela “completa e submissa
dedicação” de José à sua missão, do homem “talvez tímido” mas dotado “de uma
grandeza sobre-humana que encanta”.
“São José, um homem
‘comprometido’ como se diz agora, por Maria, a eleita entre todas as mulheres
da terra e da história, sempre sua virgem esposa, também fisicamente sua
mulher, e por Jesus, em virtude da descendência legal, não natural, sua prole.
A ele, os pesos, as responsabilidades, os riscos, as preocupações da pequena e
singular sagrada família. A ele o serviço, a ele o trabalho, a ele o
sacrifício, na penumbra do quadro evangélico, no qual nos agrada contemplá-lo,
e certamente, sem dúvida, agora que tudo conhecemos, chamá-lo feliz,
bem-aventurado. Isso é Evangelho. Nele os valores da existência humana assumem
medidas diferentes daquela que somos acostumados a apreciar: aqui o que é
pequeno torna-se grande” (Homilia de 19 de março de 1969).
O esposo sublime
Em 26 anos de pontificado João
Paulo II falou de São José em infinitas ocasiões e, sempre disse que rezava
intensamente pelo santo todos os dias. Essa devoção se resume no documento que
lhe dedica em 15 de agosto de 1989, com a publicação da Exortação Apostólica Redemptoris
Custos, escrita 100 anos depois da Quamquam Pluries de
Leão XIII. No documento Papa Wojtyla aprofunda a vida de José em vários
aspectos principalmente o do matrimônio cristão no qual oferece uma profunda
leitura da relações entre os dois esposos de Nazaré.
“A dificuldade de se aproximar ao
mistério sublime da sua comunhão esponsal levou todos, desde o século II, a
atribuir a José uma idade avançada e a considerá-lo guardião, mais do que
esposo de Maria. É o caso de supor, ao invés, que na época ele não fosse um
homem idoso, mas que a sua perfeição interior, fruto da graça, o levasse a
viver com afeto virginal a relação esponsal com Maria” (Audiência Geral de
1996).
O pai silencioso
De São José não se conhecem as
palavras, apenas os silêncios. Bento XVI aprofunda-se na aparente ausência de
São José e extrai dela a riqueza de uma vida completa, de um homem fundamental
que com seu exemplo sem proclamações marcou o crescimento de Jesus o
homem-Deus:
“Um silêncio graças ao qual José,
em união com Maria, custodia a Palavra de Deus (…) um silêncio marcado pela
oração constante, oração de bênção do Senhor, de adoração da sua santa vontade
e de confiança sem reservas à sua providência. Não se exagera quando se pensa
que do próprio “pai” José, Jesus tenha tomado – no plano humano – a robusta
interioridade que é pressuposto da autêntica justiça, a “justiça superior”, que
ele um dia ensinará aos seus discípulos”. (Angelus de 2005)
O Santo da ternura
Da pequena “paróquia” de Santa
Marta, Papa Francisco refletiu muito sobre o Santo ao qual confia todas suas
preocupações. “O homem que custodia, o homem que faz crescer, o homem que leva
adiante toda paternidade, todo mistério, mas não pega nada para si”, disse numa das Missas matutinas. Por fim, em 20 de março de 2017 sublinha que José é o
homem que age também quando dorme porque sonha o que Deus quer.
“Hoje gostaria de pedir que nos
conceda a todos a capacidade de sonhar, porque quando sonhamos coisas grandes,
bonitas, aproximamo-nos do sonho de Deus, daquilo que Deus sonha sobre nós. Que
conceda aos jovens — porque ele era jovem — a capacidade de sonhar, de arriscar
e de cumprir as tarefas difíceis que viram nos sonhos. E conceda a nós a
fidelidade que em geral cresce numa atitude correta, cresce no silêncio e na
ternura que é capaz de guardar as próprias debilidades e as dos outros”.
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